Minha História


A Saga da primeira consulta até o dia da cirurgia

Tudo começou quando acordei em uma manhã no final do mês de maio de 2009 com os pés muito inchados, colocar o tênis já era uma tarefa árdua, ele mal entrava no pé. Decidi então marcar uma consulta com o Dr. Natalino Rinaldi que atende no CTO (centro de tratamento da obesidade) no Hospital Santa Casa de Porto Alegre. Só que no CTO ele atende somente as quartas feiras, então marquei a primeira consulta com ele no consultório do Hospital Santo Clara (complexo do Hospital Santa Casa). A consulta foi marcada para o dia 04/06/2009.
Lá foi eu, acompanhada do meu fiel companheiro, meu marido. Habitava em mim um misto de expectativa, nervosismo, medo...eu estava tão próxima (pelo menos eu achava que estava, rsrsrs) de algo que eu sonhava há 26 anos, que era emagrecer.
O Dr. Natalino me foi indicado por uma amiga que operou com ele (Mariane), e ela é um caso de sucesso, emagreceu, conseguiu eliminar não só os kgs em excesso, mas também deu bye bye a diabetes.
No momento da consulta, ele me explicou algumas coisas sobre a cirurgia, e me acompanhou até a balança... Oh meu Deus... Eu estava pesando 150 kg, naquele momento me senti horrível e só ai pude perceber o porquê realizar tarefas do meu dia a dia, coisas normais, do cotidiano, eram tão difíceis. Então ele me deu uma lista dos médicos dos quais eu precisaria consultar (médicos da equipe), uma lista de exames incluindo ecografia abdominal e endoscopia.
Marquei os médicos no mesmo dia e os exames realizei na semana seguinte.
Fiz a endoscopia sem anestesia, pois precisava estar lúcida para realizar outros exames na mesma manhã.
15 dias depois voltei ao consultório com o Dr. Natalino no CTO, com os exames. Para minha sorte eu não tinha a bactéria Helicobacter pylori ( Hp ) que é uma bactéria que vive no muco que cobre a superfície do estômago que é muito comum e provoca gastrite, e é somente identificada na endoscopia. E para operar a bactéria precisa ser eliminada com antibióticos.
Bom, pelo menos a tal bactéria eu não tinha.
Começou então a minha saga pelos consultórios dos outros médicos... Endocrinologista, clínico geral, nutricionista, psiquiatra, psicóloga, assistente social (longa história).
O clínico foi bem assustador comigo, disse que eu poderia tentar uma dieta, pois todos os meus exames estavam muito bons, o que significa que eu não tinha nenhuma doença derivada da obesidade, embora eu estive com um IMC de 51.9, o que é considerado um grau de obesidade mórbida severa. Então relatei a ele que durante a noite eu sofria muito para dormir, tinha crises de falta de ar durante o sono. Foi pedido então um exame para diagnosticar a apnéia do sono... E claro, eu tinha apnéia do sono.
Fui aprovada pelo clínico, pelo endócrino que também me pediu uma série de exames para diagnosticar problemas hormonais, mas o resultado dos exames foi ótimo.
Fui à nutricionista, fui a reuniões com o grupo pré operatório solicitados pela psicóloga (três reuniões), onde também fui aprovada pela psicóloga.
Fui ao psiquiatra, onde fui sincera e disse que eu tinha THB (transtorno do humor bipolar nível II), que usei medicamentos por um longo tempo, mas havia parado e estava me sentindo bem. Ele aprovou a cirurgia, mas recomendou uma supervisão mais de perto no pós cirúrgico.
Por fim faltava ir à assistente social, que na época estava de atestado médico. Cada vez que eu ligava para a enfermeira chefe responsável pelo CTO e não obtinha resposta eu caia no choro, já que eu estava com tudo pronto, exames, laudos, tudo, só faltava à consulta com a assistente social, que nada mais é para poder comprovar que depois da cirurgia eu teria condições de comprar as vitaminas e suplementos requisitados pela equipe.
Enfim, um mês esperando... Consultei, ela aprovou. Marquei novamente a consulta com o cirurgião Dr. Natalino para marcarmos o dia da cirurgia, mas para minha surpresa a enfermeira chefe do CTO havia esquecido o meu prontuário e faltava recolher a assinatura do endócrino para poder mandar os laudos para o plano de saúde.
Nesse dia chorei como uma criança ao ver todo o meu esforço de viver dentro da Santa Casa fazendo exames, consultas para acelerar o processo... Sendo adiado mais uma vez, e dessa vez por irresponsabilidade de uma pessoa que chefia um centro, onde ela lida com sonhos, com pessoas, com vidas...
Meu cirurgião ao ver o meu desespero, chamou-a e mandou que ela desse um jeito de conseguir a assinatura do endocrinologista, já que ele dava consultas apenas nas terças feiras... E eu teria que esperar mais oito dias... Pois era quarta feira. Nesse dia havia reunião com a equipe médica e uma endocrinologista da equipe assinou pelo endócrino responsável (ele havia autorizado que ela assinasse).
Dr. Natalino então ligou para o centro cirúrgico e reservou a sala de cirurgia para o dia 25/09/2009, ou seja, o hospital precisava mandar os laudos e exames devidamente assinados para o plano de saúde e o plano autorizar a cirurgia, tudo isso em uma prazo de nove dias.
Nem preciso dizer o quanto fiquei nervosa. No dia seguinte liguei para a enfermeira chefe do CTO perguntando se dessa vez ela havia mandando os laudos, ela confirmou o envio, liguei então para a Golden Cross que confirmou o recebimento e a resposta foi: “ Estamos em análise a resposta sai em até 7 dias uteis” , novamente me desesperei, pois se eles dessem a resposta no 6 dia eu teria que remarcar a cirurgia. Todos os dias eu ligava no período da manhã, tarde e noite para o plano de saúde, tentando acelerar o processo, que para minha surpresa o plano liberou no terceiro dia. Liguei para o Dr. Natalino confirmando a cirurgia para o dia 25/09/2009 as 14 h e ele mandou que eu fizesse três dias de dieta liquida.

O grande dia chegou

O dia 25/09 caiu em uma sexta feira, arrumei a malinha no dia anterior com as coisinhas que eu iria precisar no hospital. Pijama, toalha de banho, escova de dente, chinelo, escova de cabelos, essas coisinhas todas.
Fui até a casa dos meus pais, me despedi da minha família, da minha avó e fui para o hospital com o meu marido (nem preciso falar que todos choraram e eu também).
Mas fui com a certeza de que se algo fosse acontecer, era por que assim Deus quis. No grau de obesidade que eu estava era mais perigoso eu continuar com os 150 kg do que enfrentar a cirurgia.
Cheguei ao hospital por volta do meio dia, minha cirurgia estava marcada para as 14 h, preenchi a baixa hospitalar e fui encaminhada para o centro cirúrgico. Meu marido ficou com a mala e eu fui para o bloco, lá vesti aquele aventalzinho azul, que por sinal não fechou, o enfermeiro deu-me um lençol para que eu pudesse me enrolar. Tirei meus adornos, piercing, brincos e o momento mais doloroso foi tirar a aliança, que nunca havia saído do dedo. Entreguei a aliança para o meu marido, o abracei bem forte, chorei novamente (ai como eu choro, rsrsrs), e fui para a sala de cirurgia.
Lá o Dr. Natalino me tranqüilizou, apresentou-me a equipe, anestesista, circulante de sala, etc...
Deitei na mesa cirúrgica... Nesse momento elevei meu pensamento e entreguei minha vida nas mãos de Deus, pedindo que ele guiasse as mãos do meu médico.
Lembro que a ultima imagem que tive antes da cirurgia foi olhar o relógio que marcava 13 h.

Ufa, pelo menos eu acordei da cirurgia

Acordei da cirurgia, eu já estava na sala de recuperação, perguntei a hora para a enfermeira, já era 18h30min hrs. Acordei tonta, com muita dor, estava com o dreno no abdômen, com uma sonda, com um dreno que ia pelo nariz, um óculos nasal (oxigênio), com botas que inflavam de minuto em minuto, com aparelho de pressão no braço que verificava sinais vitais a cada 15 minutos, com o curativo da cirurgia, com um aparelhinho que apertava o dedo que verificava meus batimentos cardíacos e claro com o soro.
Mesmo com a sonda, a sensação que eu tinha era que minha bexiga ia explodir, mas na verdade não havia urina, pois eu estava sondada, mas a sensação permanecia.
A equipe de enfermagem aplicava morfina, tramal e dipirona tudo na veia para melhor a dor e o incomodo que eu estava sentindo. A dor a medicação amenizava, mas o incomodo era inevitável. Eu sentia muita sede, boca seca, mas não podia beber nenhum liquido. Costumo dizer que eu tive a sorte, pois não eram enfermeiras que cuidam de mim, eram anjos sem asas. Elas molhavam minha boca com gases, conversam comigo na tentativa de estimular minha consciência já que a anestesia geral nos deixa um pouco confusa.
Na manhã seguinte, as 07 h eu ainda estava na sala de recuperação, acordei e o enfermeiro chefe o Alexandre da sala de recuperação veio conversar comigo, e eu pedi a ele que avisasse o meu marido que eu estava bem. Ele ligou e meu marido veio para o hospital. Lembro que o primeiro sorriso que dei na nova vida foi com esse enfermeiro, que disse brincando: “ Começar o dia ligando para homem, vai ser um dia e tanto hoje” rsrs.
Nessa manhã, conheci a enfermeira Marisa... Jamais irei esquecer o nome dela... Talvez ela nem lembre mais de mim, mas para mim ela se tornou inesquecível. Sabendo que meu marido iria vir, ela me deu um banho de leito, limpou meu rosto, arrumou meu cabelo, vestiu em mim um avental cor de rosa, isso fez com que eu me sentisse melhor.
O Dr. Natalino chegou logo depois, tirou a sonda da bexiga, tirou o dreno do nariz, o respirador e as botas (ah essas botas, que angustia). Nesse momento melhorei um pouco.
Meu marido chegou, e o enfermeiro liberou que ele me visitasse, mas que fosse breve a visita, pois eu ainda estava na sala de recuperação. Falei pouco com ele, pois logo dormi devido à medicação.
Por volta das 14 h eu fui para o quarto, onde havia flores me esperando.

No quarto

No quarto começou a tormenta das veias, devido à obesidade minhas veias são finas e a equipe de enfermagem logo perdia os acessos, meus braços e mãos estavam inchados e roxos por causa das inúmeras perfurações em busca das veias.
Senti muita dor na ferida operatória e dor nas costas, pois eu só podia deitar na mesma posição. Levantar para ir ao banheiro era um dos maiores sacrifícios, assim como tossir e falar, pois a dor no abdômen era muito grande.
Minha mãe chegou logo depois, me deu um banho (ufa, um banho fez a diferença). Logo após o banho era o momento de refazer o curativo, foi ai que pude ver o corte.
A bolsa de dreno vazou e precisou ser trocada, a dor que eu senti na troca da bolsa do dreno foi tão grande, que olhei para o lado e vi minha mãe de cabeça baixa chorando. Nesse momento me dei conta de onde eu havia chegado, deixei a obesidade chegar ao nível tão elevado que precisei estar ali no hospital passando por tudo isso, sofrendo e vendo quem eu amo sofrer também.
Logo depois começou o entre e sai de enfermeiros, médicos e da equipe de fisioterapia, que faziam exercícios, caminhadas... (eu mal podia ficar de pé).
E meu marido ali, sempre junto... Ele passou os quatro dias comigo no hospital, dormindo no sofá ao lado da cama. A sorte é que o quarto tinha frigobar, TV, ar condicionado.
As horas no hospital não passam. Os ponteiros do relógio não se movem.
No domingo recebi mais visitas, mas pouco pude dar atenção, a morfina e as outras medicações me deixavam sonolenta demais.
Dipirona na veia me traumatizou, como dói, parece que a medicação entra rasgando a veia.
Na segunda feira, comecei a receber 20 ml de água de 30 em 30 minutos, chazinho, suquinho, caldinho de canja... E graças a Deus meu estomago tolerou tudo, não tive nenhum enjôo.
Na terça eu já estava pedindo que não me desse mais tramal e nem morfina. Pois a dor era pequena e eu queria logo receber alta. As 15h00min da terça eu recebi alta. Finalmente iria para a minha casinha, ver meu filhinho (meu cachorrinho), e poderia dormir na minha cama.

Chegando em casa

Olhei tudo ao meu redor e agradeci a Deus por estar de volta.
Meu marido mais uma vez foi um anjo, acordava durante a noite várias vezes para me levar ao banheiro, minha mãe também me ajudou muito, fazendo os curativos na ferida operatória e no dreno, esvaziando o dreno, dando banho.
Em casa o que mais tinha era aqueles copinhos de 50mls, eu tinha que tomar 50mls de líquidos a cada 1 hora, mesmo muitas vezes eu não tendo a menor vontade, mas tinha que tomar.
Doía muito para me virar de lado na hora de dormir, o dreno incomoda muito.
No sábado meu irmão veio de SP para me visitar, isso foi muito importante para mim.
Na sexta seguinte fui ao consultório do Dr. Natalino no Hospital Santa Clara retirar o dreno, nossa que alivio.
Depois que tirei o dreno, comecei a retomar minhas atividades, conseguia levantar da cama sozinha, tomar banho e eu mesma fazer meu curativo (pelo menos para isso serviu cursar enfermagem, rsrsr).
Mas teimosa como sou, fiz arte... rsrsrs
Minha mãe havia avisado que eu não poderia fazer esforço, que era como uma cesariana... Mas o médico havia dito que a dor era o meu limite... Pensei: “A mãe está desatualizada”
Desatualizada?? Que nada, ela tinha razão. Fui limpar o xixi do meu cachorrinho e rompi alguns pontos e por conseqüência tive uma hemorragia subcutânea na área da cirurgia. Doeu demais, ficou inchada a região e tudo roxo em volta. Liguei no celular do Dr. Natalino explicando o acontecido e ele mandou que eu fosse no dia seguinte ao consultório para ele avaliar.
Lá fui eu... De novo...
Ele avaliou, explicou o que tinha acontecido e pediu que eu fizesse repouso e que voltasse uma semana depois para retirar os pontos.
Na semana seguinte, retirei os pontos, nosso como doeu!! Vi estrelinhas!
Agora era hora de visitar a nutricionista
Sem os pontos, sem o dreno, com 12 kgs eliminados, fui na nutricionista para ela evoluir minha dieta para pastosa. Já não agüentava mais tanto liquido, eu não sentia fome, mas sentia vontade de comer algo mais sólido.
E lá fui eu, mais 15 dias de sopinhas, papinhas, iogurte, leite...
Contei os dias no calendário para evoluir para a dieta branda, onde eu podia comer papinhas mais sólidas. E assim fiquei por mais 15 dias.
Quando evolui para a dieta sólida comemorei. Mas durou por pouco tempo, três meses após a cirurgia eu ainda não tolerava carnes, arroz. Comia algumas saladas, guizadinho, coisas mais leves e mesmo assim os vômitos eram freqüentes, e não foi a tal mastigação, pois eu mastigava tanto que tinha medo até de engolir, pois o problema não era apenas vomitar, eu sentia uma dor aguda no estomago.
No sexto mês comecei a tolerar a carne e os vômitos tornaram-se escassos.
As consultas com os médicos eram periódicas, a cada 15 dias... Depois a cada um mês... Hoje a cada 6 meses apenas com a nutri, o cirurgião e o psiquiatra. Com o clínico só se eu precisar. 
Hoje já tenho um ano e meio de cirurgia e como de tudo, como pouquinho, o pouco necessário que preciso para me manter com saúde. Sei reconhecer o meu limite, sei reconhecer quando estou satisfeita e não insisto em comer mais do que meu estomago tolera.
Às vezes ainda quando tomo água muito rápido ainda dói o estomago.
Mas com um ano e meio de cirurgia, eliminei 75 kg, estou com 75 kg, fazendo academia, me sentindo viva de novo. E sei que de agora em diante a eliminação de peso vai ser mais moderada. Sinto-me outra pessoa. Nasci de novo! Sai do casulo, estou a sete dias de ser operada (abdominoplastia), agora começo a ganhar asas! E virar borboleta!